segunda-feira, 29 de agosto de 2011

laço de fita

Era verão de 1994 quando uma menina nasceu. Ela tinha olhos azuis cor de céus e os cabelos negros. Quando nasceu, sua mãe logo quis produzi-la e pós-lhe um laço bem grande de fita em seu cabelo. O laço era cor vermelho cintilante, quase maior que a menina. O laço brilhava muito, mas não tanto quanto os olhos da mãe ao segurar a menina nos braços para amamenta-la. É até engraçado comentar sobre essa situação. A vontade de ter uma filha era tão grande que aquela mãe já tinha feito milhares de laços coloridos para colocar em sua menina. Ela passava dias tricotando e fazendo casaquinhos para sua mais nova bonequinha. Ela, enquanto esperava o grande dia, brincava literalmente de casinha com as coisas miúdas que comprara para colocar em seu quartinho. Cada roupinha, cada sapatinho, e sempre um laço de fita para combinar.
A menina foi crescendo, e a cada dia sua mãe colocava um novo laço de fita. Sua mãe adorava tirar fotos da filha, e em todas as fotos a menina usava um laço diferente. Uns maiores, outros menores. Uns com muitas cores, outros mais simples. Mas o laço continuava ali, como se fizesse parte da menina. Aos nove anos a menina conheceu um menino, e eles brincavam sempre quando possível. E quando se encontravam parecia que as brincadeiras eram sempre novas, ou as ideias nunca acabavam. Ele nascera no mesmo ano que ela, porém um mês depois. Mas nenhum dos dois se importavam muito com idades, o importante mesmo era brincar e curtir ao máximo o pouco tempo que tinham para fazer isso. Ele era mais alto e tinha o cabelo mais escuro também. Seus olhos de jabuticaba penetravam nos olhos azuis da menina de uma forma tão forte que os dois sentiam o que o outro queria dizer. Ele a chamava de "menina do laço cor de rosa" e ela apenas o chamava pelo nome. Eles foram crescendo, os cabelos da menina se tornaram loiros com alguns cachos nas pontas e o menino cresceu muito, e seus cabelos continuavam escuros. Os encontros foram ficando cada vez menos frequentes, mas aquele sentimento forte que um tinha pelo outro ainda existia, e era o que os mantinha conectados sempre. A menina começou a parar de usar rotineiramente laços de fita, porém, nos poucos dias que usa os dois se encontram e os olhos do menino passam a brilhar, assim como o laço cor de rosa brilha para ele. E é assim, quase que sempre. Ele olha para ela, ela olha para ele, a saudade daquele tempo vem, e a amizade dos dois continua ali, como um laço de fita: é bonito, então nunca temos vontade de desfazer.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Pessoa especial

“Ficar com muita gente é fácil”, diz um amigo meu, com pouco mais de 25 anos. “Difícil é achar alguém especial”.
Faz algum tempo que tivemos essa conversa. Ele tentava me explicar por que, em meio a tantas garotas bonitas, a tantas baladas e viagens, ele não se decidia a namorar.
Ele não disse que estava sobrando mulher. Não disse que seria um desperdício escolher apenas uma. Não falou em aproveitar a juventude ou o momento e nem alegou que teria dificuldade em escolher. Disse apenas que é difícil achar alguém especial.
Na hora, parado com ele na porta do elevador, aquilo me pareceu apenas uma desculpa para quem, afinal, está curtindo a abundância. Foi depois que eu vim a pensar que existe mesmo gente especial, e que é difícil topar com uma delas.
Claro, o mundo está cheio de gente bonita. Também há pessoas disponíveis para quase tudo, de sexo a asa delta. Para encontrar gente animada, basta ir ao bar, descobrir a balada, chegar na festa quando estiver bombando. Se você não for muito feio ou muito chato, vai se dar bem. Se você for jovem e bonita, vai ter possibilidade de escolher. Pode-se viver assim por muito tempo, experimentando, trocando de gente sem muita dor e quase sem culpa, descobrindo prazeres e sensações que, no passado, estariam proibidos, especialmente às mulheres.
Mas talvez isso tudo não seja suficiente.
Talvez seja preciso, para sentir-se realmente vivo, um tipo de sensação que não se obtém apenas trocando de parceiro ou de parceira toda semana. Talvez seja preciso, depois de algum tempo na farra, ficar apaixonado. Na verdade, ficar apaixonado pode ser aquilo que nós procuramos o tempo inteiro – mas isso, diria o meu jovem amigo, exige alguém especial.
Desde que ele usou essa fatídica expressão, eu fiquei pensando, mesmo contra a minha vontade, sobre o que seria alguém especial, e ainda não encontrei uma resposta satisfatória. Provavelmente porque ela não existe.
Você certamente já passou pela sensação engraçada de ouvir um amigo explicando, incansavelmente, por que aquela garota por quem ele está apaixonado é a mulher mais linda e mais encantadora do mundo – sem que você perceba, nela, nada de especial. OK, a garota é bonitinha. OK, o sotaque dela é charmoso. Mas, quem ouvisse ele falando, acharia que está namorando a irmã gêmea da Mila Kunis. Para ele ela é única e quase sobrenatural, e isso basta.
Disso se deduz, eu acho, que a pessoa especial é aquela que nos faz sentir especial.
Tenho uma amiga que anda apaixonada por um sujeito que eu, com a melhor boa vontade, só consigo achar um coxinha. Mas o tal rapaz, que parece que nasceu no cartório, faz com que ela se sinta a mulher mais sensual e mais arrebatada do planeta. É uma química aparentemente inexplicável entre um furacão e um copo de água mineral sem gás, mas que parece funcionar maravilhosamente. Ela, linda e selvagem como um puma da montanha, escolheu o cara que toma banho engravatado, entre tantos outros que se ofereciam, por que ele a faz sentir-se de um modo que ninguém mais faz. E isso basta.
É preciso admitir que há gente que parece especial para todo mundo. Não estou falando de atores e atrizes ou qualquer dessas celebridades que colonizam as nossas fantasias sexuais como cupins. Falo de gente normal extremamente sedutora. Isso existe, entre homens e entre mulheres. São aquelas pessoas com quem todo mundo quer ficar. Aquelas por quem um número desproporcional de seres humanos é apaixonado. Essas pessoas existem, estão em toda parte, circulam entre nós provocando suspiros e viradas de pescoço, mas não acho que sejam a resposta aos desejos de cada um de nós. Claro, todo mundo quer uma chance de ficar com uma pessoa dessas. Mas, quando acontece, não é exatamente aquilo que se imaginava. Você pode descobrir que a pessoa que todo mundo acha especial não é especial para você.
Da minha parte, tendo pensado um pouco, acho que a pessoa especial é aquele que enche a minha vida. Ela é a resposta às minhas ansiedades. Ela me dá aquilo que eu nem sei que eu preciso – às vezes é paz, outras vezes confusão. Eu tenho certeza que ela é linda por que não consigo deixar de olhá-la. Tenho certeza que é a pessoa mais sensual do mundo, uma vez que eu não consigo tirar as mãos dela. Certamente é brilhante, já que ela fala e eu babo. E, claro, a mulher mais engraçada do mundo, pois me faz rir o tempo inteiro. Tem também um senso de humor inteligentíssimo, visto que adora as minhas piadas. Com ela eu viajo, durmo, como, transo e até brigo bem. Ela extrai o melhor e o pior de mim, faz com que eu me sinta inteiro.
Deve ser isso que o meu amigo tinha em mente quando se referia a alguém especial. Se for isso vale a pena. As pessoas que passam na nossa vida são importantes, mas, de vez em quando, alguém tem de cavar um buraco bem fundo e ficar. Essas são especiais e não são fáceis de achar.

IVAN MARTINS
editor-executivo de ÉPOCA

sábado, 20 de agosto de 2011

surpresa de manhã

Eram seis em ponto da manhã de um sábado qualquer e normal. Eu estava dormindo, tendo meus maravilhosos sonhos que já não lembro mais exatamente como eram, mas sonhava gostoso. E de repente...
TRIIIIIIM TRIIIIIIIM (o telefone de casa toca)
- Alô? - Disse com dificuldade para falar alto ao ponto da pessoa do outro lado escutar.
- Maristela?
- Oi pai, tudo bem?
- Sabe, eu andei pensando. Eu não estou feliz aqui, não estou nada feliz. Então estou voltando, estou indo para o aeroporto, devo chegar em Brasília umas quatro horas. E eu pensei se você não queria ir a Pirenópolis comigo - Ele dizia com a voz mais calma e ao mesmo tempo nervosa do mundo.
- Uai... - Tentava entender o motivo daquela ligação - Vamos, tudo bem.
- Você quer ir comigo? Acho que se a gente quer fazer diferente, a gente tem que começar diferente. Então vamos passar o final de semana juntos, ficar juntos. Faz a sua mala, eu vou esperar.

Enquanto ele dizia só pensava no "se a gente quer fazer diferente, a gente tem que começar diferente". O que ele queria dizer com aquilo? Será que eu o tratei mal ontem quando ele foi viajar? será que ele esta sentindo a minha falta assim? Mas eu não lembro de nada disso... AI MEU DEUS, O QUE EU FIZ?

- Pai? Ok, a gente pode ir... Mas esta tudo bem?
- Sim, sim... - caiu a ficha - Filha?? Como assim? Eu quero falar é com a sua mãe!
- HAHAHAHAHAHAHHA A tá! Agora sim tudo fez sentido! Calma pai, vou passar para ela. Mas eu gostei muito da proposta que você vai fazer, ok?
- Ok, obrigada filha. (voz de constrangimento)

Ai ai ai, jovens...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

era uma vez três crianças.

Três crianças brincavam em casa, uma de quatro anos, outra de cinco e outra de dezessete. Elas corriam de um lado para o outro. Gritavam de tal forma que talvez toda a vizinhança escutava a bagunça que faziam:
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!
- Corre Digo! Ela esta chegando!
- Calma Lulu! vamos nos esconder aqui. Ela nunca vai achar a gente.
- hihihihihih

(toc, toc, toc) os passos começaram a se aproximar e ficar mais fortes.

- Ai que med...
- SHIIIIIIIU Lulu! você quer que ela nos ache?
- Desculpa.

TOC TOC TOC
(silêncio) ninguém mais falava. apenas a respiração das duas crianças menores era possível de se ouvir. Elas se enrolavam com medo de serem vistas pela terceira criança.
- Acho que ela não esta aqui Lulu. Vamos lá.
(silêncio outra vez)
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAH! (grito de surpresa da terceira criança)
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAH! (susto da primeira)
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!! (susto da segunda)

(respiração profunda e frenética)

- HAHAHAHAHAHAHAH que susto Nathalinha.
- Agora é a nossa vez!
E dizendo isso, as duas crianças menores correram atrás da maior. A mais velha correu rapidamente para o quarto. e pensando que estava à salvo, é de repente surpreendida por dois pequenos projetos de gente. o menino gritava e com as pequenas mãozinhas tentava fazer cosquinhas na garota mais velha. E a menina mais nova ria, ria mais do que a que recebia a tortura das cócegas. E foi assim, durante toda a tarde. Risadas eram espalhadas pela cidade onde eles estavam. Espalhando a felicidade de criança que tinha presente ali.

ai ai... (risada)
Não é gostoso ser criança?

terça-feira, 2 de agosto de 2011

antes de dormir.

são mais de meia noite e mais uma vez estou sem dormir. Atualmente essa situação se tornou mais normal do que o meu acordar as seis horas da manhã para ir a aula. Tem dias até que não preciso acordar nesse horário pois passei a noite em claro pensando em nada. Ou as vezes até durmo, mas durmo pouco pois acordo repentinamente com um pesadelo. Não sei ao certo o motivo dessa insônia descontrolada. Talvez cansaço, talvez energia demais, talvez falta de oração, inquietude. Confesso que tenho um pouco de cada uma dessas justificativas, mas nenhuma é forte o suficiente para me impedir de descansar. Sabe, ultimamente eu ando meio calada, sem vida, e com pouco sorriso. Ando sozinha, tentando entender a vida e as coisas como elas são, sem questionar. Mas eu fracasso, pois nada que entendo é suficiente. Como se faltasse sempre alguma coisa. Como um risoto de frutos do mar sem camarão. ou uma ida a casa dos amigos sem comer pizza e ver filme... Atualmente não consigo dormir porque sinto falta de algo, e os meus dias acabam por se tornar tão incompletos que não tenho a mesma capacidade de deitar tranquilamente em minha cama e dizer "obrigada Deus, pelo meu dia" um pouco antes de cair no sono. O fato é que sinto falta daquele olhar, sinto falta de carinho, sinto falta do abraço apertado, sinto falta do sorriso sincero e bobo, sinto falta da música. Sim, ah como sinto falta disso. Daquela música lenta e tranquila. Aquela música cheia de vida e paixão, aquela música cheia de saudades, cheia de você, aquela música cheia de nós. A música que me faz acreditar que eu posso dormir e sonhar com você, pois estarei segura. Então é só isso, é só isso que eu quero. Vem pra cá, toca aquela música, vem me fazer dormir, vem nos fazer viver, vem nos fazer feliz.